segunda-feira, 29 de março de 2010

Quando tudo vai rápido demais

Tudo começa com uma coincidência, o lugar certo na hora certa, você conhece alguém e as coisas simplesmente acontecem e parecem que vão ficar por isso mesmo. Mas, mesmo quando elas acontecem por simples e total, "obra do destino", não deixamos de perceber como elas ocorrem, como as coisas funcionaram, e, conseguimos notar se aquilo é algo que pode fazer diferença ou não. Além de percebermos como a gente se comporta na situação, também conseguimos perceber como a outra pessoa se comporta dentro daquilo, é algo facilmente notável, e que, também influencia em como vamos guardar o que aconteceu na nossa memória, se vamos guardar a história, ou a pessoa.

Na grande maioria dos casos, o que fica é a história, rimos ou choramos do que aconteceu, lembramos muito bem de como as coisas funcionaram, mas, não sabemos nada da pessoa, não lembramos se ela é chata ou gente boa, não nos importamos se foi bom pra ela e nem nos sentimos motivados em vê-la de novo, pois, foi como acontece com qualquer uma em qualquer lugar. Só que, em alguns raros casos, o que fica é a pessoa, porque, percebemos que, de alguma forma, não foi algo comum, que o jeito da pessoa combinou com o seu, que realmente foi bom e que aparece uma grande vontade de repetir aquilo. Quando falo sobre algo que nos faz querer ficar com a pessoa novamente, não estou entrando no âmbito dos sentimentos avassaladores que parecem explodir dentro da gente, esse é o tipo de sentimento que vem com o tempo e a convivência, seria imaturo demais querer que tal sensação aparecesse com alguém que acabamos de conhecer.

Quando as coisas acontecem de uma forma que a pessoa fica gravada na sua memória, e que, aparece uma vontade de ficar com ela novamente, com certeza, o que fazemos, é tentar encontrar a pessoa de novo, e mesmo aparecendo dúvidas, questionamentos e inseguranças, passamos por cima disso, em busca daquilo que percebemos da outra vez. E, em alguns casos mais raros ainda, notamos que o que haviamos sentido da primeira vez retorna, e se torna mais verdadeiro. Percebemos que a pessoa é realmente aquilo que esperávamos, e, que o catalisador da vontade de ficar com a pessoa de novo é algo palpável e facilmente descritível, bem diferente daqueles sentimentos imaturos sem muito sentido. Então, o que fazemos é, querer encontrar a pessoa de novo...e de novo...e de novo, e nessas repetidas vezes aquela sensação de que a pessoa combina com você se reforça ainda mais e acaba se criando um pequeno sentimento pela pessoa baseado nas experiências que tiveram juntos.

Além de percebermos como a gente se sente ficando com a pessoa, também recebemos retornos da pessoa que está com a gente, que mostram se ela está gostando ou não. Esses retornos aparecem na forma de palavras, carinhos, sorrisos e etc., e a partir deles, fica claramente perceptível se a pessoa está sentindo o mesmo que você. Mesmo que ela se segure, freie as sensaçôes e tente disfarça-las, sempre ocorre uma hora em que fica nítido o que a pessoa realmente está sentindo dentro da situação. Logo, aquele pequeno sentimento que havia surgido, é mútuo, compartilhado, mesmo que você e a pessoa tenham se conhecido a pouquíssimo tempo. Mesmo ele não sendo um sentimento explosivo e avassalador, não deixa de ser importante, pois foi feito a partir de experiências explosivas e avasaladoras que você teve com a pessoa. Assim, esse pequeno sentimento que se forma acaba tendo um potencial muito grande de se tornar algo maior no futuro, mas, isso não quer dizer que tal potencial realmente se expresse, e é a partir dai que as coisas começam a complicar.

Usando uma metáfora para definir a situação, é como se estivessemos dirigindo numa velocidade tão alta, que empolgados com a possibilidade de chegar rápido ao destino, esquecemos das paradas que teríamos de fazer, acabamos por não perceber aonde estamos e com medo de estarmos perdidos temos que parar para conferir o mapa e ver se a viagem esta sendo feita da maneira correta. Esse é o grande problema quando tudo acontece rápido demais entre duas pessoas, afinal, aquela pessoa que você nem conhecia a uma semana atrás passa ter uma relativa importância na nossa vida e, pelo fato de muita coisa ter acontecido em tão pouco tempo, temos que parar um pouco para ver se o caminho tomado está sendo correto. Nessa hora de reflexão vem a tona os famosos fantasmas que atrapalham a vida da gente, como a insegurança, o medo, os traumas do passado, e, se não formos fortes, eles tomam conta do que a gente está pensando e passam a controlar as nossas vontades, nos deixando à mercê deles.

Neste momento de reflexão vários pensamentos vem a tona, mas, talvez o mais perigoso deles é a ideia de que temos que evitar um possível sofrimento futuro. Quando se esta pensando em manter algo que possui um potencial para se tornar maior, é óbvio que vamos pensar em como as coisas podem ser, e, infelizmente, por causa do medo e da insegurança, muitas vezes os pensamentos que aparecem sempre mostram um lado ruim, de se as coisas não derem certo um dos dois podem sofrer. Em qualquer relacionamento haverá momentos de sofrimento, são inevitáveis, principalmente no fato de que praticamente todos eles acabam um dia, nem que seja com a morte de um dos dois, a única forma de não haver sofrimento pelo final de um relacionamento é se as duas pessoas morrerem ao mesmo tempo, o que beira ao impossível. Ou seja, se formos pensar assim, nunca teremos nada com ninguém e ficaremos reclusos pelo resto de nossas vidas. Além disso, também deveria haver o pensamento contrário, que é de que as coisas podem dar certo, de que podem existir muitos momentos bons que podem ser aproveitados.

Uma outra questão que pode ser levantada, é o fato de que, você não conhece muito a pessoa e não sente algo muito forte por ela. Sentimentos fortes de verdade são construídos com o tempo e a convivência, eles não aparecem do nada e sem motivo plausível. Um sentimento forte de verdade tem como base as reais experiências vividas com a pessoa, e se, não foram vividas muitas experiências boas com ela, por causa do pouco tempo que vocês dois se conhecem, ainda não há combustível suficiente para esse sentimento se tornar algo maior, logo, não tem como sentir algo assim por alguém que você acabou de conhecer. Mas nem por causa disso, devemos se fechar para o outro, acabando com toda e qualquer possibilidade das coisas se tornarem maiores. Não devemos desconsiderar o que aconteceu, renegar os fatos, e deixar de lado o pequeno sentimento criado a partir das boas experiências com a pessoa. Por mais que seja pequeno, é um sentimento forte o suficiente para fazer um ter gostado de ficar com o outro e para manter a vontade que um tem de ficar com o outro mais vezes. Em vez de simplesmente fingir que nada aconteceu, o que pode ser feito é diminuir a velocidade, ir com calma, se conhecer passo a passo, para ai sim, ver se as coisas podem dar certo ou não.